Só vence o que recebe investimento. Ganha a corrida quem trabalha arduamente no seu desempenho. Qualquer plantio bom e valioso não cresce sozinho sem rega e acompanhamento de perto, dedicado. “O olho do dono é que engorda o gado”, já dizia o ditado. E com o amor e a maternidade não é diferente, pois o que estamos falando aqui é de atenção naquilo que nos é caro, naquilo que queremos ver prosperar, se dar bem, dar frutos.

Dois relatos me chamaram a atenção nas redes sociais essa semana… Shana Muller, cantora gaúcha, homenageou o marido no seu aniversário de casamento referindo-se a essa “sociedade”, digamos assim, como algo trabalhado, construído no dia a dia, de altos e baixos, como é da vida, e fruto de um propósito mútuo, maior do que as intempéries do caminho. Escrevendo assim parece uma posição óbvia, que qualquer uma de nós poderia simplesmente ter como definição na ponta da língua, mas vamos confessar aqui, que na prática a coisa não é bem assim…

A gente quer o resultado. Muitos anos de relação, de trocas afetuosas, de atenção, de cuidado, de intensidade. Mas a disposição para trabalhar naquilo, enquanto a relação acontece, no “olho no olho”, “on time”, é diferente. Entra idealização, a ideia de que o outro “tem que saber” do que gostamos e do que não, o que está indo bem e o que não vai a contento, além da falta de ânimo do dia a dia. O peso da rotina tira o “trabalho pelo propósito” em troca do “trabalho pelo trabalho”, o que sabemos bem que só gera desgaste e esgotamento no tempo. E eu achei bacana a forma pragmática com a qual ela descreveu o investimento matrimonial, exigente até para mim, que sou uma romântica, quando se despe da cultural idealização, e reconhece mais a necessidade e a importância da execução. Foco, perseverança e resiliência. Tudo em nome de uma decisão que aparentemente dois tomaram para as suas vidas e que não precisa ser questionada hora a hora, movida por qualquer desilusão, cansaço ou aborrecimento do caminho.

Fiquei aqui com os meus botões pensando no sentido que ela deu…

Então, na mesma linha, Bella Falconi, escritora e palestrante entre outras coisas,  lançou a sua homenagem ao marido no aniversário de casamento deles… Falou que quando perguntaram a ela como soube que ele se tratava do amor da vida dela, a resposta foi que ela nunca soube. Mas que decidiu que ele seria e lutou por ele, escolheu por ele todos os dias, ao dormir e acordar. Disse escolher pelos sonhos deles, as filhas deles, a família deles como missão de vida. Escolheu perdoar e ser resiliente como caminho para si. Tudo escolha diária. E de novo vi mais execução do que idealização. Mais decisão e clareza de propósito do que questionamento sobre aquela direção que deu para sua própria vida. Do tipo: é isso, agora é andar para frente.

Serão esses os “pratos”? Será que a atrapalhação não está em achar que é só trabalho, ou em ter o amor como apenas uma sensação, quando ele é um “fato”, e também uma decisão, e o trabalho é o que dá aparentemente vida longa a ele? Fluência, continuidade e a frequência dos seus melhores momentos?

Da mesma forma, amar os filhos e trabalhar por essa conexão não serão pratos diferentes que sozinhos pouco valem quando o guarda-chuva é a maternidade? Amor e cabana não me parecem propor perenidade, assim como, uma vida puramente operacional também não.

Por vezes me vi insatisfeita em relações românticas por achar que eu merecia mais, idealizando formas de ser amada que misturavam aquilo que eu desejava com filmes de amor, com personagens dos meus livros preferidos, com a idealização do que seria o casamento perfeito. Amor de sobra, trocas de olhares nos corredores da rotina, sedução, viagens, uma lar confortável, crianças bacanas e bem criadas, um sexo prazeroso e frequente. Eu não tinha vinte anos quando idealizei assim… Sou uma mulher que ainda desmancha essa “pintura” de vida com doses de realidade, do “corre” do dia a dia, de trabalho, supermercado, na criação das crianças, no lido com as contas, com as preocupações com o futuro e no trato do amor, que se mostra com tantas faces diferentes a toda hora. Às vezes mais “carrancudo”, outras mais desatento, outras com menos energia, mas ainda assim amor.

Quem disse que amor é sedução, beijo, abraço, carinho e só? Amor também é silêncio, trabalho, espaço, embates, cansaço, recomeço… Ele está em tudo isso quando, mesmo com todo o pacote que ele envolve, decidimos ficar e seguir investindo. Quando nos policiamos atentas àquilo que queremos ver florescer por mais uma primavera entendendo que esse processo tem suas fragrâncias e nem todas cheiram a rosas.

Escolher de novo as nossas relações não me parece significar questioná-las como um ritual periódico, por isso fazer parecer que o amor é suscetível e avaliado conforme o desempenho do dia ou de determinado momento. Quando a vida da gente tem passagens tão distintas, medidas por uma régua extensa que vai do maravilhoso ao terrível, dependendo da forma como cada um de nós vive cada uma delas. Quando os dias podem ter de tudo um pouco. Imagina em anos! Quantas experiências uma relação de amor pode nos trazer e que nos levam ao céu e eventualmente ao inferno, lugares que não estão no outro nem criados por ele, mas que são nossos. Do nosso lido, e que demandam o nosso trabalho e entrega afetiva e executiva. Na direção do que escolhemos para a nossa jornada quanto se trata de investimento de energia, no desejo de que seja eterno enquanto dure a convicção nessa verdade.

No mais, naquele conceito de que a sorte encontra aqueles que estão trabalhando, tenho escolhido investir a minha energia e o meu trabalho mais árduo em mim e no que me é caro. E fazer esse movimento conectada ao meu propósito de vida, que é vivenciar o amor e construções mais ricas em afeto do que em qualquer outra coisa, acaba se apresentando um investimento que vale a pena aqui, sabe? Que me retorna a contento…

É um equilíbrio de pratos, e eu tenho um mundo particular deles aqui dentro. A sorte é que a luzinha que marca o lugar que eu quero chegar está cada vez mais clara… Talvez seja disso que a Shana e a Bella estavam falando:)

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