O papo de hoje é sobre o tratamento que damos às situações “problema” que a vida nos apresenta e a falta de, eu diria, humanidade, que ainda permeia a nossa condução natural frente às exigências do caminho. Estoura a bomba e o primeiro movimento que fazemos é em nossa própria defesa. Até aí tudo bem, genuíno. Mas o fato é que a base é sempre composta de medos pessoais, criados pelas nossas vivências particulares, traumas, pelo que julgamos ser o mal, ser o antídoto, ser a solução ou o fim. De uma prepotência tão avassaladora, que achei valioso olharmos melhor para isso como aprendizado.

Quando me separei, os primeiros movimentos à minha volta me comunicavam “pena”, pelo meu evidente fracasso como mulher na minha vida afetiva, e como mãe, na proteção que não consegui dar à estrutura segura e imóvel de família dos meus filhos, que aparentemente os garantiria segurança. Percebi também no meu entorno a “repulsa”, quando a maior parte das pessoas faziam parecer que a minha situação era contagiosa, que eu poderia passar para outras mulheres e casamentos o vírus do divórcio, do questionamento sobre a própria vida e de uma possível implosão de tudo, erupção ou qualquer outra palavra cruelmente destrutiva e irresponsável.

Essa semana aconteceu o segundo episódio de violência desde o início das aulas por parte de um coleguinha do meu filho de onze anos. A segunda situação, eu poderia dizer, exigente e que urge por envolvimento e providências por parte de pais, crianças e escola. Só que me chamou a atenção que todos pedem um tipo de “justiça” que entende como caminho o julgar, castigar e isolar o “garoto problema”. O melhor mesmo seria mandá-lo para um “reino tão tão distante”, lá onde a família da “Fiona do Sherek” perdeu as botas e fez lar, ou algum outro lugar como a “terra do nunca”, quem sabe… Desde que se suma com o problema das vistas. Afinal, até gera pena, mas é preciso proteger “os nossos” em primeira instância…

No momento em que me deparei com a forma de trato da situação, não pude evitar a comparação com a minha vivência de divórcio e do abandono o qual vivi. Foi impossível não pensar que aquele podia ser o meu filho, em reação às tantas exigências que vivemos em família, oriundas das nossas mudanças. Lembrei-me da minha filha Joana, com quase dois anos em um aniversário de criança, quando ela, incomodada com o fato de eu estar amamentando o irmão de três meses, saiu mordendo Deus e todo mundo pela festa que, de repente, parecia um filme de terror tendo a minha filha como a protagonista do mau. E foi natural o meu desconforto e lástima ao me sentar na cadeira da mãe do menino que está sendo julgado e condenado por um comportamento que pode advir de tantas coisas sobre as quais nenhum de nós está livre.

Então choveram convites e palpites para que ele se retire da escola. Para que seja suspenso. Para que pais conversem com seus filhos sobre o comportamento inaceitável desse aparente “ofensor da paz”, “menino mau”, em “sofrimento”, deixando-o ainda mais vulnerável do que parece se encontrar. A dor da repulsa do lugar e do grupo do qual fazemos parte é tão profunda, afeta tanto as nossas vidas, a nossa própria superação frente ao que precisamos atravessar! Enquanto seres que buscam a vida em comunhão com outros, em grupos e comunidades, seria tão importante que pudéssemos olhar para como nos sentimos no direito de prender e soltar, de julgar, castigar ou dar direção e solução para o que não nos cabe, para o que não dominamos, nem temos o diretor de fadar a extinção!

Que importante que pudéssemos pais e filhos, usar acontecimentos exigentes para evoluímos, transformarmos realidades, para ampararmos quem atravessa seus túneis e precisa de ajuda com nossos braços e afetividade como apoio! Que valioso que nossas crianças pudessem ouvir de seus pais “abracem!” ao invés de “se protejam!” ou “isolem o problema!”

Estaríamos criando melhores seres humanos e dando um bom trato naquele que vive em nós. Talvez seja aquela tal “dica de ouro” de consultores caros que pagamos para ouvir, que diz que é preciso seguir desaprendendo e aprendendo… Amanhã ou depois, pode-se abrir um novo túnel justamente na nossa frente. E então, esperaremos dos que nos entornam um pouco mais do que eventualmente nos dignamos a oferecer.

O abraço e a sensação de não estar sozinho é tudo. E é também só o que nos salva da tortura que é andar no escuro, principalmente no caminho de criar filhos. É pegar ou largar. E se “ser pega”, acolhida, representa o que você gostaria para si, então já sabe o que fazer.

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