Para tudo e pega um café. Queria pensar junto, só uns minutinhos. Prometo ser breve.

Vamos lá… Será que é preciso levar a vida inteira para aprender o que é importante?

O caminho longo e padrão, cheio de placas de “pare” e de “siga em frente”, de modelos vitoriosos e dos mais trabalhosos, de boas práticas e daquelas que conduzem a um desfecho previsível, está registrado por todos os lados em roteiros de filmes, na história do vizinho, daquela amiga, de um conhecido qualquer colunista do impresso que acompanhamos. Falo daquele que nos entrega na vida, seja pela interpretação cênica ou por histórias reais, como ferrar com a própria jornada. Como se ausentar de si mesmo e “perder o bonde”. Como viver e se arrepender depois, quando já não há mais como voltar.

O excesso de trabalho, a deslealdade consigo mesmo ou com alguém que se preze, o uso de drogas de forma abusiva, da mentira com seus efeitos colaterais, de anestésicos no lido com o que é exigente, do distanciamento dos filhos, do egoísmo, do ataque à natureza, da isenção de responsabilidade frente ao que vive e escolhe, e por aí vai. Venho pensando nisso com frequência já que, vamos e venhamos, há de se levar em consideração os sinais do universo na vivência de uma jornada com valor. Há de se prestar atenção no outro, nas causas e efeitos de cada acontecimento, e em si mesmo, na tomada de decisões conscientes para a própria vida que assumam seus propósitos e desconfortos, e as suas eventuais consequências.

As pistas estão por todo lado. O universo é bom, não esconde nada da gente. Está tudo aí, em volta. Informações e sinais de que podemos lidar melhor com a nossa própria história, com o que tivemos o privilégio de ter, ou pelo aprendizado do “não ter”, com auto responsabilidade e coragem. Seria bom que simplesmente quiséssemos ver, enxergar o movimento da vida, sem boicotes e anestesias que nos levam ao caminho inverso àquele que nos faz crescer e evoluir em direção ao nosso propósito mais íntimo, à experiência de viver em paz e em estado de felicidade.

É simples, mas não é fácil. Exige resistência. Porque vem uma onda, e outra, e mais outra, e a sensação de afogamento no tanto de verdade que evitamos enfrentar e das quais sentimos que não daremos conta, preenche quase todo o espaço em nós. Ocorre que se pensarmos nos momentos mais intensos e dolorosos que vivemos, que nos exigiram mais, podemos perceber que foram eles que definiram as nossas grandes oportunidades de cura, de recomeço, de transformação daquilo que nos colocava em sofrimento.

Um dia me indicaram experienciar um encontro com a minha “criança ferida”, comigo mesma menina. Essa era a proposta da atividade orientada por uma querida psicóloga e hoje amiga. Naquele dia abri uma porta escura com um tanto de medo, o qual eu decidira naquele momento enfrentar. Foram tempos duros, de mais baixos do que altos. No entendimento de tudo que me construíra como sou e as dores que me acompanharam na vida adulta. Só que trabalhando a questão, se fez a luz nesse espaço, uma hora ela vem para quem treina os olhos para andar na escuridão. Clareei um lugar que antes era de atrapalhação, de uma dor sem nome, de um obstáculo para a pessoa e para a mãe que eu poderia ser na minha jornada particular. Sem mais as cargas daquilo que antes não tive condições de acomodar melhor na minha bagagem, de compreender como fonte de crescimento. Exercitando menos auto piedade e mais empatia a partir de um olhar mais maduro, menos hipócrita e mais humano.

Assim foi com outras tantas portas escuras. Vem sendo. Com aquela que me definia nas minhas relações amorosas, aquela outra que me condicionava profissionalmente, aquela ainda que me trazia a realidade de uma relação de refém com o dinheiro, a da timidez em me posicionar fortemente por um valor meu, a da vergonha de falhar, a do medo de engordar, e aquela amedrontada pela possibilidade de abandono, uma sensação que fui descobrir que morava em mim há muito.

Abrir as portas da nossa própria casa e integrar a nossa vida é algo que não pode levar uma vida toda… Se abandonarmos a ideia, pode sim, mas para quem busca um estado de paz e felicidade frente à própria vida não é muito tempo?

Sei o que isso pode custar, acredite. Tem um monte de medo por aí. Quem nunca teve medo de andar na própria casa sozinha à noite? Quem nunca teve medo de mexer nas caixas de memórias do sótão ou aquelas debaixo da cama? Quem já não se sentiu incapaz de revisar as próprias escolhas pelo medo delas simplesmente não serem mais? Quem não guarda em si o medo de se conhecer por inteiro e encontrar neste espaço íntimo lados negros e mais humanos do que o mundo contemporâneo é capaz de aceitar no auge da sua “moral de cueca”?

Essa é uma batalha solitária no campo da nossa própria alma. Abrir as nossas portas é também compreender melhor o mundo. É também ser melhor com as pessoas e seus tropeços, com a natureza da qual usufruímos e, principalmente, com nós mesmos. É o que me parece, de verdade, pelo que venho atravessando no meu percurso e naqueles que acompanho. Ou eu não estaria determinada a antecipar a “faxina” da minha própria morada para viver agora a felicidade de experienciar uma existência consciente e uma vida com os que eu amo. Presente.

Lá na frente pode ser tarde ou simplesmente pouco tempo. Um desperdício que espero mitigar.

Fez sentido? Agora vai para as portas da tua morada. Melhor se arrepender pelo que fez. E um ambiente de luz é um ambiente de luz, vamos combinar:)

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